O filme ''A vida secreta das abelhas'' relata a trajetória de uma garota que, durante um passeio com seus pais por um parque da cidade em que morava, desaparece sem deixar rastros, não sendo encontrada pela família após o incidente. Fora da ficção, encontra-se, no Brasil atual, cenário semelhante ao descrito na obra, haja vista a significativa quantidade de pessoas que desaparecem todos os anos em território nacional. Nesse contexto, cabe destacar a ausência de eficiente assistência social e falhas nos sistemas de busca como propulsores para tais acontecimentos.
É possível afirmar, de início, que a negligência estatal em relação à saúde pública contribui para que os casos de desaparecimentos aumentem no país. De acordo com o filósofo materialista Friedrich Hegel, o Estado deve proteger os seus ''filhos'' - referência aos cidadãos que vivem sob sua tutela. No entanto, o ineficiente apoio governamental a indivíduos que sofrem de questões psicológicas vai de encontro à afirmação do pensador alemão. A escassez de profissionais capacitados nos hospitais públicos - como psiquiatras e assistentes sociais - impossibilita o correto tratamento e a devida orientação a essas pessoas. Consequência disso é, muitas vezes, a fuga desses indivíduos de seus respectivos lares, como forma de amenização ou escapismo a doenças de cunho psicológico não tratadas.
Nota-se, ademais, que as deficiências características dos programas de segurança auxiliam na permanência da problemática. Com efeito, lacunas no serviço de órgãos públicos relacionados à busca de desaparecidos impedem que tais indivíduos possam ser encontrados e entregues às suas respectivas famílias de maneira rápida e efetiva. A ausência de infraestrutura eficiente, como agentes especializados e mecanismos de procura com tecnologia avançada, bem como a permanência de informações e dados desatualizados a respeito dos desaparecidos, impossibilitam que tais casos sejam solucionados. Desse modo, ocorre o encerramento precoce de investigações envolvendo pessoas desaparecidas - devido à ausência de investimento significativo voltado à estrutura que essa área de atuação exige -, o que retira a esperança dos familiares de voltarem a encontrar seus entes queridos.
Depreende-se, portanto, que o fornecimento de assistência psicológica à população em geral e uma melhor supervisão e controle dos mecanismos de busca estão entre as principais políticas públicas que devem ser ampliadas visando a contenção de desaparecimentos no país. Diante disso, cabe ao Ministério da Saúde - órgão responsável pela proteção e recuperação da saúde da população - ampliar a rede de atendimento psicológico e psiquiátrico nos hospitais do país, mediante a promoção de maior oferta de vagas ligadas ao tratamento psicossocial da população, a fim de que haja uma diminuição no número de casos de desaparecimento motivados por fatores mentais. Além disso, urge que o Ministério da Justiça e Segurança Pública direcione maiores investimentos à obtenção de tecnologia avançada no que se refere à busca de desaparecidos e à manutenção e melhora da infraestrutura dos órgãos públicos responsáveis por essa função. Espera-se, com isso, que a afirmação de Hegel torne-se realidade e o Estado passe a cuidar de seus filhos.