No filme “Modo Avião” a protagonista adolescente é levada para uma fazenda como forma de reabilitação das redes sociais. Ao fazer um paralelo com os impactos da superexposição nas redes sociais na realidade brasileira, o vício vivenciado pela jovem é, infelizmente, experienciado por muitos indivíduos, os quais ultrapassam -não raro- os limites entre o público e o privado. De fato, um cenário marcado por excessos, oriundo do despreparo não só psicológico, como também educacional.
A princípio, cabe pontuar que a cultura do exibicionismo aliada ao descaso com a saúde mental corrobora a problemática. Conforme Guy Debord, sociólogo, a vida se tornou um espetáculo aonde cada pessoa se esforça em aparentar uma perfeição utópica. Nesse sentido, mediante vários ambientes de midiatização e exposição exacerbada, o coletivo social tem a tendência a seguir, ainda que inconscientemente, o fluxo de exibir hábitos perfeitos a todos, a exemplo de blogueiras no Instagram, ou ainda, no reality Big Brother. Isso reflete em uma precariezação do psicológico de tais pessoas, uma vez que a busca pelo utópico é infinita. Logo, movida por exposições, a coletividade se estagna no processo de construção de identidade própria.
Já em uma segunda análise, vale ressaltar a falta de educação digital em meio ao advento da internet. De acordo com Hanna Arendt, filósofa, ações e comportamentos não questionados quanto à sua maldade quando repetidos ao longo tempo são banalizados. Dessa forma, a ausência de métodos educacionais no âmbito digital perpetua atos errôneos nas redes, os quais se tornam banais, a exemplo do caso da menina Anna Clara, de 9 anos, que é exposta diariamente nas redes sociais – as quais são para maiores de treze anos. Ora, se o senso crítico é ignorado, sobretudo no meio online, a nação se encontra distante do ideal de ordem e progresso.
Depreende-se, portanto, a significância de repensar os impactos da superexposição nas redes sociais. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação, responsável pela formação social, investir na instrução tecnológica, em especial acerca dos limites dentro das redes online, por meio da instauração da disciplina educação digital na grade curricular, a partir do ensino fundamental, com o intuito de formar cidadãos mais críticos e aptos a utilizarem tais tecnologias sem grandes prejuízos. Além disso, compete ao Ministério da Saúde, em sua função de zelar pela saúde pública, empreender no preparo e cuidado psicológico, por intermédio de cursos e oficinas, com a participação de especialistas da área, com o fito de alertar a população e melhor instruí-la. Somente assim, o país estará apto a ajudar na mitigação de tal mal, assim como em Modo Avião.