as manifestações de violência dentro dos estádios brasileiros de futebol
no livro “memórias póstumas de brás cuba”, de machado de assis, o personagem principal, autointitulado de defunto autor, diz em suas memórias que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. com efeito, percebe-se que essa visão pessimista do protagonista parece descrever uma das faces mais perversas da sociedade atual: as manifestações de violência dentro de estádios de futebol. diante disso, é inegável que a cultura de agressões somada à impunidade potencializam essa problemática.
a princípio, é indispensável salientar que as manifestações de violência dentro dos estádios brasileiros de futebol estão intrinsecamente associadas à cultura de agressões. segundo a filósofa marilena chauí, a sociedade brasileira é autoritária e violenta e as torcidas organizadas parecem validar muito bem essa premissa, quando valorizam a emoção em detrimento da razão, enxergando a equipe adversária como um inimigo a ser combatido e humilhado. isso favorece a origem de atitudes hostis, como o racismo, mortes, xenofobia, mutilações, depredações de patrimônios, o que cria um círculo vicioso cujo ódio é um dos menores efeitos. desse modo, é perceptível a necessidade de reverter de modo eficiente esses conflitos, os quais, infelizmente, contribuem para fortalecer a afirmação de chauí.
outro fator que agrava essa crise nos estádios é a impunidade. em consonância com a empresa brasileira de comunicação (ebc), apenas 3% das transgressões cometidas por torcedores foram punidas nos anos de 2014 e 2015. sob essa ótica, tal dado revela a incapacidade das polícias militares em executar com eficiência sua função social - garantir a segurança dos cidadãos durante os jogos e auxiliar na investigação criminal. isso faz com que o futebol, que deveria ser uma atividade lúdica, propicie danos irreversíveis a quem vai apenas apreciar o esporte e instigue os delinquentes a cometer mais delitos. dessa forma, enquanto houver passividade, a violência jamais será exceção.
fica clara, portanto, a necessidade de ações que visem reverter às manifestações de violência dentro dos estádios brasileiros de futebol. para tanto, os clubes, em parceria com a confederação brasileira de futebol (cbf), devem ampliar o diálogo com as entidades e torcidas organizadas, mediante medidas sócio- pedagógicas nos espaços de convivência, de modo a instruir acerca das atitudes que não são toleradas durante os jogos, como racismo, mutilações e etc, com o fito de coibir a cultura da violência. por fim, o ministério da justiça e segurança pública deve investir na área de inteligência em segurança, a exemplo da utilização de câmeras de reconhecimento facial e capacitação dos policiais para administrar de forma eficiente os conflitos. apenas assim, será construída uma nação em que o defunto autor pudesse se orgulhar.