Na canção “Meu caro amigo”, por Chico Buarque, estão implícitas uma série de referências à Ditadura Militar na qual foi produzida, período marcado pela forte repressão das liberdades individuais, incluindo a de se expressar através da produção artística. Fora dos regimes autoritários, a liberdade de expressão foi conquistada com longas lutas sociais e é tamanha que se encontra deturpada em muitos momentos, associando- se aos discursos de ódio. Como consequência disso, temos os crescentes índices de violência da contemporaneidade.
No século XVIII, a liberdade foi motor de um dos movimentos filosóficos que mais alteraram os padrões sociais: o Iluminismo. Apesar do absolutismo monárquico, tão condenado pelos representantes da teoria, ter cingido ao passado, a violência trazida pela imposição de vontades e ideias ainda acontece. Em consoante com o sociólogo Pierre Bourdieu, a violência simbólica é um mal intensamente presente na sociedade, concretizado em uma coação psicológica que causa danos morais ao oprimido. Desse modo, discursos de ódio exemplificam o conceito filosófico, valendo-se da liberdade de expressão como argumento absoluto para justificar atos de preconceito, garantindo uma impunidade injusta.
O caso do candidato à presidência, Levi Fidelix, é um claro exemplo dessa noção de “liberdade infinita”, sendo acusado inúmeras vezes por suas falas homofóbicas mascaradas por discursos religiosos. Em consoante com o colocado por Vanessa Vieira, que foi defensora responsável na ação contra o candidato, qualquer fala que incite a violência e relativize um grupo social, deixa de ser uma lícita manifestação da liberdade, sendo caracterizada como discriminação. Isso posto, é um mal que causa mortes mundialmente e tem seu combate previsto pela legislação.
Portanto, fica clara a necessidade de ações persistentes nessa separação entre liberdade e discursos de ódio. Cabe ao Poder judiciário garantir o cumprimento das leis contra o preconceito, apesar dos discursos remodelados com intuito de se enquadrarem como manifestação de opinião livre. Além disso, ações de conscientização por parte do Ministério da Educação e dos agentes midiáticos, como a televisão e os jornais, também são necessárias, para que exista uma valorização da liberdade individual e interesse em usufruir dela de maneira pacifica. Parafraseando o autor Oscar Wilde, apesar do uso indevido e violento da liberdade de expressão ser um erro, experiência pode ser acumulada em resposta a ele, servindo como condutora na atenuação da problemática.