Uma das vertentes da xenofobia no Brasil é fruto do darwinismo histórico-cultural instaurado outrora. Sob um viés dicotômico, as práticas de imigrantes foram rechaçadas e tidas como inferiores em contraponto à supervalorização de um oriundo "soberano", no contexto histórico de supremacia da Segunda Guerra Mundial, o povo originário autodeclarado superior. A construção social canarinha, desde então, encontra uma pedra no meio do caminho, parafraseando Carlos Drummond. Ademais, a perspectiva narcisista de estranhamento ao que não é espelho construiu os muros da xenofobia que cerceiam o avanço da pátria brasileira.
Mormente, segundo a filósofa Marilena Chaui, o ser humano é cultural. Esse princípio demonstra que, apesar de ser um exercício, a cultura pode estar arraigada em ideias errôneas. Diariamente são noticiados casos de intolerância e desigualdade com o arranjo migratório, que são alvos de violência moral e física, revelando um lapso entre a legislação que assegura a liberdade e segurança, e a prática, que cerceia a expressão dos imigrantes. Nesse sentido, a discriminação desvelada evidencia uma forte influência etnocêntrica na sociedade, em que o respeito é resguardado aos nativos, e o desrespeito aos que migram e diferem do pré-estabelecido.
Outrossim, além dos empecilhos causados pela violência, a discriminação tornou-se algo generalizado no Brasil. Sob tal ótica, ao passo em que grupos sociais se erguem em favor do combate à desigualdade, as taxas de xenofobia aumentaram mais de 130% desde 2016, e isso tende a se expandir criando um ambiente insalubre e propício a propagação do preconceito. Dessa forma, a subversão de valores prevista por Nietzche, é encontrada em atos de intolerância, o que evidencia um paradoxo histórico em que as diferenças são perseguidas num país alicerçado na diversidade.
Embora caótica, a situação é mutável. Segundo o educador Paulo Freire, a educação transforma as pessoas e essas mudam o mundo. Torna-se imperativo, portanto, o dever do Estado a criação e implantação de um projeto, ministrado por profissionais capacitados, em museus e centros de educação infantil e jovem, o qual promova palestras, seminários e apresentações artísticas que discutam a valorização dos imigrantes e desconstruam esteriótipos construídos outrora a respeito do cotidiano e dos direitos do grupo migratório. Além disso, cabe ao Poder Judiciário ressignificar a lei já existente em combate à xenofobia, punindo todos que ainda perpetuam e verbalizam o preconceito e desigualdade. Desse modo, poder-se-á perpassar a pedra no meio do caminho proferido por Drummond.