os impactos da propaganda no brasil contemporâneo]
a era da "pós-verdade"
historicamente, as estratégias de propaganda sempre foram determinadas pelas capacidades dos meios de comunicação de massa e causaram um forte impacto social. as recentes tecnologias, como a internet e "smartphones", têm permitido, pela primeira vez, que o consumidor deixe de ser um mero receptor para tornar-se também um potencial propagador e "remixador" da mensagem propagandista. contudo, essa nova perspectiva ainda não foi capaz de propiciar uma diminuição da alienação, própria da cultura de massa em que estamos inseridos.
mormente, é preciso considerar as forças sociais que regem a contemporaneidade. segundo zygmunt bauman, as arbitrariedades do holocausto marcam o fracasso das utopias da modernidade e dão início a uma nova era que definiu como "modernidade líquida". nesta, a ausência de uma identidade social leva a um forte individualismo e a progressiva substituição da ideia de segurança pela de proteção. isto é, na ausência de uma segurança interior, convicções filosóficas, passa-se a adotar uma proteção exterior, erguem-se muros. desse modo, inibi-se o diálogo e transforma-se a reiteração do que já se acredita na principal forma de afirmação da verdade. por conseguinte, configura-se um cenário de crise ética, já que há pouco interesse pela compreensão do outro.
nesse contexto, é compreensível que as novas estratégias de propaganda não tenham aproveitado o potencial das novas tecnologias para diminuir a alienação, mas para aumentar, ainda mais, a desinformação. vivemos a era da "pós-verdade", eleita a palavra do ano de 2016 pelo dicionário oxford, na qual a enorme capacidade de propagação de boatos tem transformado-os rapidamente em "bolhas ideológicas" com valor de verdade no imaginário social. desse modo, as "fake news", utilizadas como estratégia de propaganda política, têm decidido eleições em todo o mundo, incluindo o brasil. nitidamente, a adesão alcançada pelas "fake news" não é causada por uma falta de acesso a informação, mas por uma indisposição ao diálogo e tentativa de impor a verdade a partir da propagação do que se quer fazer acreditar e ocupação da mídia, logo, uma questão social e não, tecnológica.
por fim, para mudar essa situação, o ministério da educação deve estender o ensino de filosofia e sociologia, mesmo que de uma maneira mais lúdica, ao ensino fundamental; cobrar com mais intensidade tais disciplinas nos exames e concursos públicos; bem como aumentar a remuneração dos professores a fim de aumentar a procura por essa atividade. ademais, como é impossível haver ética onde não há livre arbítrio, é imprescindível que, por livre iniciativa, a as escolas, as famílias e a sociedade debatam, tanto nas salas de aula, no contato íntimo do dia a dia como também nas próprias redes sociais, temas filosóficos com a mesma importância que debatem temas tecnológicos e do entretenimento. tudo isso a fim de minimizar a crise ética. afinal, de pouco adianta os grandes avanços tecnológicos se os valores éticos que determinam a qualidade de seu uso também não forem desenvolvidos.