Na canção "N.O." (não), o grupo sul-coreano BTS, discorre acerca da estrutura educacional vivenciada por eles. A banda critica, na letra, a supressão da individualidade dos jovens promovida pelos pais e responsáveis, os quais fazem uso da dominação hierárquica para impor, aos alunos, uma visão distorcida no que tange às conquistas pessoais. Ao criar, no vídeo clipe, um cenário distópico da sala de aula, o BTS destaca como as rotinas estressantes de estudo afetam a saúde mental dos indivíduos. Embora o cenário descrito pela banda seja do sistema educacional coreano, no Brasil, os estudantes vivenciam uma realidade similar. Isso se dá, em parte, devido à organização escolar ineficaz e ao ambiente familiar inadequado.
Em primeiro plano, evidencia-se o arranjo das salas de aula, o qual determina uma noção de superioridade do lecionador, de modo a impelir, ao aluno, a função de passividade frente ao processo de aprendizado. De acordo com o filósofo Foucault, a escola, como instituição de sequestro, tende a hipervalorizar a manutenção da ordem, em detrimento da formação social do indivíduo. Dessarte, o foco do ensino fica voltado para o repasse de informação, sem que haja, qualitativamente, um processo de individualização e de desenvolvimento criativo. Desse modo, bons resultados em provas são mais estimados do que o senso crítico, e os estudantes tornam-se agentes secundários das próprias vidas.
Outrossim, é imperativo pontuar os efeitos gerados pelo menosprezo dos adultos ao comportamento naturalmente infantil dos jovens. Segundo a dicotomia apolínea e dionisíaca de Nietszche, a acepção da racionalidade como forma superior de percepção dos fenômenos causa a desumanização do homem. Para o filósofo, a tendência moderna é o afastamento dos prazeres, a fim de alimentar uma moralidade falsídea. Analogamente, tem-se, hoje, a demonização do comportamento irracional das crianças, as quais são precocemente adultizadas; assim, são destinadas, a elas, responsabilidades além da capacidade psíquica infantojuvenil, o que tende a gerar distúrbios psicológicos.
Diante do exposto, urge que o Ministério da Educação, por intermédio de um amplo debate com psicólogos, crie um projeto estudantil focado na integração dos alunos como agentes protagonistas e na desassociação do sucesso do aprendizado à resultados puramente acadêmicos. Esse projeto deverá visar à reconstrução do professor como figura de auxílio, não de domínio, e ao acréscimo de fatores extracurriculares no ingresso às universidades. Além disso, as escolas garantiriam atendimento psicológico periódico aos jovens. Isso, com a finalidade de ressignificar o estudo e de valorizar a individualidade dos estudantes. Assim, minimizar-se-á a pressão escolar imposta no Brasil.