A obra "Vida Secas", de Gracilino Ramos, conta a história de retirantes nordestinos que fogem do castigo da seca. No enredo, Fabiano, chefe da família, sente-se como um animal por não ter domínio da língua padrão. Essa obra literária, apesar de ser do século passado retrata um visão mantida hodiernamente, o preconceito linguístico. Nesse aspecto, fatores políticos e socioculturais são contribuintes para esse quadro social.
A princípio, sabe-se que o Brasil é um país de várias culturas, no qual nativos, africanos e europeus contribuíram para a construção de uma vasta cultura.Contudo, ao observar o preconceito linguístico, percebe-se que mesmo com a variedade cultural, ainda há resquícios de hegemonia na sociedade. A manutenção desse preconceito, na questão política, pode ser destacada desde a Grécia Antiga, em que os Sofistas utilizavam o domínio da língua para criar oligarquias. Analogamente, a classe política brasileira utiliza a linguagem como uma forma de sobreposição social, uma vez que pode influenciar pessoas menos favorecidas através da oratória. Nesse sentido, o pouco interesse em oferecer educação ao povo, torna-se uma ferramenta de controle, no qual o conhecimento da língua está associado aos que detém o poder.
Outrossim, um fator que contribui para tal problemática é o contexto sociocultural. Segundo o sociólogo Émile Durkheim, o fato social é um fenômeno caracterizado por ações e pensamentos exteriores coercitivos ao indivíduo. Logo, infere-se que no processo histórico brasileiro o domínio de uma língua formal foi determinante da formação das classes e, por conseguinte, do preconceito. Em virtude disso, a existência de uma norma padrão da língua portuguesa, caracterizando-a e tornando-a homogênea, corroborou com preconceito existente, visto que as variantes da língua foram desprezadas. Sob esse viés, a construção de estereótipos e pré-julgamentos foram erguidos, ora pelo acesso precário à educação, ora pela linguagem regional. Dessa forma, pessoas de várias regiões do país sofrem com a exclusão social, sendo hostilizadas por se expressarem de uma maneira diferente da exigida pela classe dominante.
Urge, portanto, que medidas sejam tomadas solucionar o problema. Logo, é necessário que o Poder Legislativo crie uma lei que tone crime o preconceito linguístico, com intuito de atenuar esse impasse. Também é necessário que o Ministério da Educação junto as Secretárias de Educação realizem uma reformulação do currículo escolar, incluindo o ensino das variantes da língua portuguesa, a fim de que crianças cresçam e respeitem as diferenças existentes. Ademais, cabe ao MEC a criação de campanhas elucidativas no rádio, televisão e Internet, com objetivo de informar a população sobre esse tipo de preconceito. Destarte, esse triste aspecto social retratado na obra regionalista "Vidas Secas" não fará mais parte do contexto brasileiro.