Na fantástica obra literária “O cortiço” — Aluísio Azevedo lança luz sobre a vivência de Bertoleza, personagem objetificada e explorada pelo seu companheiro João Romão. Sob essa ótica, transpondo-se para a sociedade brasileira, tal obra mostra-se como retrato social das tristes relações abusivas, as quais advêm não só da lamentável prática de abuso psicológico, mas também da preocupante relativização do comportamento machista. Assim, torna-se improtelável fomentar o combate a essa problemática em prol da harmonização social. É coerente reconhecer, preliminarmente, que, muito embora a Constituição Federal salvaguarde — em seu artigo 5° — a preservação da integridade física e moral do cidadão, na realidade, essa proposta é desrespeitada na maior parte dos relacionamentos no Brasil, relativamente à continuidade da violência e, principalmente, do abuso psicológico. Nesse viés, a “violência simbólica”, teoria do exímio sociólogo Pierre Bourdieu, evidencia os danos que afetam diretamente a saúde mental dessas pessoas as quais são totalmente manipuladas por opressores. Logo, tamanho dilema efetua-se como um danoso retrocesso social e comprova o perigo das “relações líquidas”. Outrossim, é fulcral enfatizar o historiador Fernand Braudel e o processo de longa duração, haja vista parte da sociedade brasileira ainda vivenciar na contemporaneidade práticas do patriarcalismo. Referente a essa teoria, indubitavelmente, a relativização do comportamento machista permite, também, a persistência da violência doméstica, exemplifica-se então o repercutido caso do Dj Ives e as contínuas agressões à sua esposa Pâmela. Dessarte, inúmeras relações tóxicas, infelizmente, são vivenciadas a todo tempo no país e a “banalidade do mal” persiste de forma desumana. Desse modo, depreende-se, pois, resoluções funcionais acerca desse dilema. Posto isso, concerne aos Ministérios da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e da Educação promoverem a elaboração de um plano nacional nomeado de “Relações saudáveis”. Tal projeto deve ser instrumentalizado com campanhas de sensibilização por meio da mídia engajada, em canais abertos, como Globo, SBT e Record TV - que disponham, ainda, um disque denúncias, além de levar a temática para as escolas e universidades, com o intuito dessas vítimas perceberem quando estiverem entrando em relações abusivas e terem facilidade em tomar providências, a fim de que a desumana vivência de Bertoleza não seja mais replicada por tantas pessoas no Brasil.