Tema de redação – Obsolescência programada

O consumismo dirigido para o mercado tem uma receita para enfrentar esse tipo de inconveniência: a troca de uma mercadoria defeituosa, ou apenas imperfeita e não plenamente satisfatória, por uma nova e aperfeiçoada. A receita tende a ser reapresentada como um estratagema a que os consumidores experientes recorrem automaticamente de modo quase irrefletido, a partir de um hábito aprendido e interiorizado. Afinal de contas, nos mercados de consumidores-mercadorias, a necessidade de substituir objetos de consumo “defasados”, menos que plenamente satisfatórios e/ou não mais desejados está inscrita no design dos produtos e nas campanhas publicitárias calculadas para o crescimento constante das vendas. A curta expectativa de vida de um produto na prática e na utilidade proclamada está incluída na estratégia de marketing e no cálculo de lucros: tende a ser preconcebida, prescrita e instilada nas práticas dos consumidores mediante a apoteose das novas ofertas (de hoje) e a difamação das antigas (de ontem). Entre as maneiras com que o consumidor enfrenta a insatisfação, a principal é descartar os objetos que a causam. A sociedade de consumidores desvaloriza a durabilidade, igualando “velho” a “defasado”, impróprio para continuar sendo utilizado e destinado à lata de lixo. É pela alta taxa de desperdício, e pela decrescente distância temporal entre o brotar e o murchar do desejo, que o fetichismo da subjetividade se mantém vivo e digno de crédito, apesar da interminável série de desapontamentos que ele causa. A sociedade de consumidores é impensável sem uma florescente indústria de remoção do lixo. Não se espera dos consumidores que jurem lealdade aos objetos que obtêm com a intenção de consumir. (BAUMAN, Zygmunt. A vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. P.31). 

Exemplo Tema de redação – Obsolescência programada

   Na obra “O espírito das Leis”, Montesquieu enfatizou que é preciso analisar as relações sociais existentes em um povo para aplicar as diretrizes legais e abonar o progresso coletivo. No entanto, ao observar a obsolescência programada, certifica-se que a teoria do filósofo diverge da realidade contemporânea, haja vista a persistência da necessidade descomedida de consumo, o que gera impactos na vida financeira da população e no meio ambiente, e isso impede a ascensão do Estado brasileiro. Com efeito, é imprescindível enunciar os aspectos socioculturais e a insuficiência legislativa como pilares fundamentais da chaga.
   É importante considerar, antes de tudo, o fator grupal, pois, segundo Jurgen Habermas, a razão comunicativa – ou seja, o diálogo – constitui etapa fundamental do desenvolvimento social. Nesse ínterim, a falta de estímulo ao debate a respeito da obsolescência programada coíbe o poder transformador da deliberação e, consequentemente, corrobora o aumento da prática. Esse é um dos fatores responsáveis pelo alto número de endividados no país, pois eles se sentem pressionados pelo mercado a consumirem, do contrário, estarão desatualizados por não conseguirem usufruir dos novos recursos. Isso, uma vez que se vive em uma era tecnológica, também pode significar menos oportunidades de trabalho. Dessarte, discorrer criticamente a problemática é o primeiro passo para a consolidação do progresso sociocultural habermaseano.
   Além disso, merece destaque o quesito constitucional. Assim, segundo Jean-Jacques Rousseau, os cidadãos cedem parte da liberdade adquirida na circunstância natural para que o Estado garanta direitos intransigentes. Entretanto, o tema abordado em tese contrasta a concepção do pensador, na medida que o consumo desenfreado gera um nível elevado de poluição do solo, mares e rios, pois não há um descarte eficiente dos objetos. Desse modo, a indústria produz, segundo dados do Programa das Nações Unidas, 41 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano, e grande parte dos resíduos são descartados de forma incorreta.  Dessa forma, ações precisam ser executadas pelas autoridades competentes, com o fito de dirimir o revés.
   Portanto, entende-se a temática como sendo um obstáculo intrínseco de raízes culturais e legislativas. Por isso, a mídia, por intermédio de programas televisivos de grande audiência, deve discutir o assunto com cientistas das áreas tecnológicas, a fim de apresentar soluções que prolonguem a vida útil dos produtos cibernéticos, além de mostrar as reais consequências do problema e apresentar uma visão crítica aos espectadores. Essa medida ocorrerá  por meio da colaboração de um projeto estatal, em parceria com o Ministério das Comunicações. Em adição, o Ministério Público deve criar multas mais severas, para que as empresas descartem corretamente o lixo eletrônico. Realizadas essas medidas, a sociedade brasileira terá o progresso social concretizado, como enfatizou Montesquieu.