o silenciamento das mulheres na sociedade
a série “o conto da aia” retrata um mundo distópico onde o sexo feminino não tem lugar de fala: bocas cobertas por máscaras, lábios suturados e línguas decepadas. com efeito, semelhante à ficção, percebe-se que a realidade brasileira protagoniza esse mesmo drama, haja vista o silenciamento das mulheres que se configura como uma sub-representação estrutural. diante disso, para se combater essa problemática, é necessário conhecer os cenários históricos que potencializam a fragilidade democrática.
a princípio, é indispensável salientar que o silenciamento das mulheres está associado às heranças históricas. nesse sentido, em 1932, o voto feminino foi autorizado de maneira facultativa no brasil, somente às viúvas e solteiras com renda própria, alfabetizadas e maiores de 21 anos, e às casadas mediante autorização do marido - uma clara tentativa de excluí-las da participação eleitoral e retardar o protagonismo. hoje, mesmo com a vigência da lei de cotas de gênero garantida pela carta maior, essas raízes do patriarcado continuam a dominar as instâncias governamentais, visto que, de acordo com o tribunal superior eleitoral (tse), apenas 12% das prefeituras do país são comandadas por mulheres. esse cenário pouco promissor contribui para a manutenção da centralidade masculina no poder e a marginalização do sexo oposto, ainda que este represente a maioria populacional. logo, enquanto essa sub-representação persistir, a sociedade estará distante de um dos maiores pilares democráticos: a pluralidade nas discussões públicas.
por consequência dessa estrutura patriarcal e sexista, observa-se a fragilização da ordem democrática. conforme a ex-presidente do chile michelle bachelet, “quando uma mulher entra na política, muda a mulher, quando muitas mulheres entram na política, muda a política”. apesar disso, percebe-se que o cenário brasileiro diverge dessa premissa defendida por bachelet, especialmente quando muitas adultas são usadas como “candidatas – laranjas”, sob uma falácia de inclusão, não recebendo o apoio necessário do partido para competir com igualdade e, assim, serem eleitas. essa forma de boicote e de silenciamento impede que o gênero feminino, cis ou trans e branco ou preto, seja protagonista na formulação de políticas públicas que atendam às suas demandas e coloquem em pauta importantes discussões relacionadas à sua opressão, vide a violência doméstica, discriminação racial, bem como a integração da comunidade lgbtqia+ à sociedade. assim, não é razoável que o estado democrático de direito se exima da sua responsabilidade, permanecendo alheio a essa situação cruel.
portanto, o tse deve desenvolver estratégias para eliminar o silenciamento dessa minoria social, por meio da obrigatoriedade de cada partido ter 50% das suas candidaturas ocupadas por mulheres e do monitoramento da utilização dos recursos financeiros enviados a essas instâncias, os quais devem ser descentralizados, como a exigência da realização de campanhas eleitorais por todos os membros da coligação e a destinação de profissionais técnicos responsáveis pela distribuição equitativa das verbas, além da averiguação dos atos pré-candidaturas. essa iniciativa tem a finalidade de dar visibilidade ao engajamento feminino na administração governamental, garantir a competição com igualdade, evitar fraudes, bem como romper com a sub-representação em pautas importantes. apenas assim, “o conto da aia” deixará ser um retrato fiel da realidade nacional.