O trecho "Esta é a história de uma mulher que poderia ter sido” pertence a obra nacional “A vida invisível de Eurídice Gusmão'' que retrata a jornada de uma mulher que abre mão de seus sonhos e ambições diante das pressões de uma sociedade conservadora. Fora das páginas, a inferiorização da figura feminina ainda é uma situação recorrente no cotidiano do povo brasileiro. Diante desse quadro flagelador, que tem raízes históricas e se configura como um tipo de violência, é necessária a intervenção do Poder Público para que se promova o fim do silenciamento das mulheres na sociedade.
Em primeira análise, é evidente que o machismo estrutural enraizado no tecido social é a gênese do problema. Sob tal prisma, a posição de fragilidade e inferioridade historicamente imposta às mulheres, associadas apenas aos papéis de “mãe” e “cuidadora do lar”, são responsáveis pelo preconceito sofrido por essa parcela da população em ambientes que transcendem os referidos meios. A exemplo, é pertinente citar Rosalind Franklin, cientista responsável por descobrir o formato heliocoidal do DNA e que foi publicamente ofendida e teve sua pesquisa roubada por colegas de trabalho do sexo masculino. Assim, é notório que reprodução de ideias sexistas e retrógradas colaboram para a desvalorização das mulheres na sociedade.
Ademais, a perpetuação desse quadro segregador se reflete, sobretudo, na violência silenciosa sofrida diariamente por milhares de indivíduos do sexo feminino. Nessa perspectiva, segundo o Pierre Bourdieu, a chamada “violência simbólica” é fruto de imposições sociais e é exercida sem coação física, porém gera danos morais e psicológicos em seu alvo. Com base nisso, os atos de assédio verbal, desrespeito e exclusão vivenciados por mulheres são exemplos de tal agressão. Logo, é nítido que, apesar de “invisíveis”, essas ações colaboram para o apagamento vivido por uma grande porção do corpo social .
Diante do exposto, com vistas a promover, de fato, a equidade entre gêneros no Brasil, é fulcral que o Ministério da Educação, por meio de repasse de verbas às secretarias estaduais e municipais, implante programas socioeducativos que abordem temas como machismo, misoginia e respeito ao sexo feminino nos centros educacionais. Tal medida deve englobar todos os níveis escolares, tanto do ensino público como do privado. Dessa forma, por intermédio da educação, desconstrói-se o machismo intrínseco à sociedade, o que evitará a ocorrência de histórias como a da personagem Eurídice, retrato de muitas mulheres brasileiras.