A obra literária "Vidas Secas" descreve a família de Fabiano, a qual enfrenta a seca e a miséria do sertão nordestino. Por causa da desigualdade social que enfrentam, os personagens, os quais não possuem escolaridade, são enganados pelos patrões e sofrem constantes discriminações. Fora da ficção, a realidade brasileira é análoga ao enredo modernista, haja vista a existência do preconceito linguístico na sociedade, processo intensificado pelo senso comum e que promove a marginalização dos que não se encontram no padrão. Assim, faz-se necessário amplo debate nacional para a superação desses obstáculos no século XXI. Nesse contexto, é possível analisar que a a disseminação de conceitos pré-determinados na sociedade influencia na manutenção do preconceito linguístico no Brasil. Segundo o filósofo Michel Foucault, o poder é disseminado tanto de forma vertical quanto de forma horizontal. A partir dessa perspectiva, a população civil cumpre a relação horizontal de poder, uma vez que perpetua comportamentos discriminatórios contra pessoas que possuem expressões linguísticas diferentes do padrão dominante Rio-São Paulo, ou os quais não seguem a norma culta gramatical. Logo, o preconceito exercido no cotidiano tende a se manter constante dentro das relações do corpo social brasileiro. Além disso, a língua também pode ser utilizada como mecanismo de segregação socioeconômica. Dentro disso, o linguista Marcos Bagno critica a teoria de que a língua portuguesa é uma unidade no país, e defende que há uma diversidade do português falado. Contudo, barreiras ainda são impostas aos indivíduos que possuem modos de falar que não se enquadram na norma culta ou no padrão dominante das capitais econômicas: a inferiorização e a exclusão dessas pessoas da vida em comunidade por sua condição sociolinguística desfavorável à normatividade imposta. Dessa forma, esses indivíduos tendem a permanecer à margem da sociedade, muitas vezes excluídos do âmbito econômico, por não serem aceitos em cargos qualificados, e do âmbito social, por não atenderem a expectativa do senso comum. Infere-se, portanto, que medidas devem ser aplicadas para modificar o cenário de preconceito linguístico existente no Brasil. É imprescindível, então, a atuação do Ministério da Educação, instituição governamental responsável pela formação educacional dos brasileiros, na promoção de palestras regulares com professores e psicólogos nos centros de educação formal, sobre a diversidade do português falado no país e a importância de respeitar todas as formas de expressão. Isso pode ser realizado mediante uso do erário, para ensinar aos jovens e as novas gerações que nenhum modo de falar é errado, mas dependente do contexto analisado. Dessa forma, os Fabianos que circulam pelo país poderiam desfrutar de uma sociedade linguisticamente adaptada às diferenças.