De acordo com a filósofa Nancy Fraser, a contemporaneidade é marcada pela preponderância da luta por reconhecimento em relação à luta por redistribuição. Notoriamente, apesar de o Brasil ser um país de dimensões continentais, as variedades linguísticas são amplamente discriminadas e inferiorizadas, não reconhecidas como parte intrínseca da cultura nacional. Segundo Jean-Paul Sartre, a violência, seja qual form a forma que ela se manifestar, é sempre uma derrota. Tendo em vista que o preconceito linguístico constitui uma forma de violência, medidas tornam-se necessárias a fim de solucionar o impasse.
Em primeiro lugar, é fundamental ressaltar que o preconceito linguístico pauta-se na esteriotipização e discriminação de variedades linguísticas, de acordo com aspectos socioculturais e socioeconômicos, tendo a norma-cultura como padrão para a perpetuação de tais discriminações. De acordo com Pierre Bordieu, a violação dos direitos humanos não consiste somente no embate físico, o desrespeito está, sobretudo, na perpetuação de preconceitos que atentam contra a dignidade da pessoa humana ou de um grupo social. Indubitavelmente, o preconceito existente nos ambientes sociais, tais como a escola, atuam como um fator de segregação e exclusão social, prejudicando a saúde mental e psicológica da vítima.
Em segundo lugar, é válido salientar que a discriminação linguística perpetua-se, fundamentalmente, por fatores sociais. Segundo Durkheim, fatos sociais são atos ou ações dotados de exterioridade, generalidade e coercividade. Analogamente, é notório que indivíduos que se desenvolveram em um ambiente no qual atos de preconceito eram praticados, tendem a perpetuá-los, seguindo, assim, um ciclo vicioso. Outrossim, os meios de comunicação de massa também corroboram à perpetuação do preconceito, ao adotar uma postura de superioridade em relação à norma-culta padrão, associando-a a classes sociais privilegiadas. Destarte, a pluralidade linguística no país torna-se um fator de diferenciação, e não de inclusão.
Diante dos argumentos supracitados, medidas tornam-se necessárias a fim de solucionar o impasse. O Governo, em parceria com o Ministério da Educação, deverá promover palestras e grupos de discussões em escolas, a fim de conscientizar os jovens desde a mais tenra idade acerca das consequências advindas do preconceito linguístico; a Secretaria dos Direitos Humanos, em conjunto com o Ministério da Cultura, agregar agentes regionais e municipais no recolhimento de denúncias e sugestões, a fim de promover ações culturais em âmbito nacional; e, por fim, a mídia, através de ficções engajadas, deverá abordar a questão, cumprindo, assim, seu papel social. Dessa maneira, a sociedade alcançará o princípio de equidade em Rawls, considerando o horizonte da diversidade.