Após a colonização do Brasil, no século XV, o identitário brasileiro configurou-se a partir de ideias exploratórias e desiguais, no qual os colonizadores acreditavam na superioridade racial, que mantinha as relações de poder e acentuava a desigualdade. Atualmente, vestígios dessas práticas e pensamentos deturpados permanecem e contribuem para fomentar o discurso meritocrático. Dessa forma, as organizações sociais contemporâneas são auxiliadoras da manutenção dos privilégios, que inviabiliza a ascensão social dos desfavorecidos.
O termo "globalização perversa", cunhado pelo geógrafo Milton Santos, aponta as modernizações tecnológicas como potencializadoras das desigualdades sociais. Sob esse viés, a classe alta possui acesso facilitado e instantâneo aos equipamentos e informações mais atuais da era virtual, em oposição aos indivíduos pobres, limitados no contato com o desenvolvimento. Então, os avanços técnicos se tornaram mais uma ferramenta para garantir a concentração de poder que persiste há séculos e converge com o pensamento do geógrafo.
Paralelamente, aqueles desprivilegiados nessa relação vertical possuem dificuldade em alcançar a mobilidade social, pois, sem auxílio governamental e incentivo popular, essa situação se torna utópica. Analogamente ao livro "Quarto de Despejo", de Carolina de Jesus, no qual é retratado a vida de uma mulher negra e periférica que, apesar de ser uma escritora brilhante, não recebeu o reconhecimento que merecia, decorrente da desigualdade social, racial e de gênero. Assim sendo, a história de Carolina exemplifica a barreira imposta sobre o indivíduo historicamente desfavorecido, de modo a inviabilizar o discurso de meritocracia.
Portanto, torna-se evidente que o mito da meritocracia e a desigualdade social fazem parte da sociedade brasileira e precisam ser combatidas. Para isso, o Estado, por meio do Ministério da Economia, deve investir na concessão de créditos facilitados e de taxas isentas às classes baixas e, além disso, realizar campanhas em parceria com canais abertos, de modo a alcançar maior público possível, que demonstrem os malefícios ocasionados pela manutenção do mito da meritocracia, com o intuito de facilitar a ascensão social e desvincular o pensamento colonizador do atual, respectivamente. Somente assim, o conceito de Milton Santos deixará de ser uma realidade e narrativas como do livro ficarão no âmbito ficcional.