De acordo com as ideias de Aristóteles, “devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”, visto que quando as oportunidades são dadas a todos de maneira justa, não há lugar para desarmonia social. Tal situação indica que não se trata apenas de igualdade e de fornecer aos indivíduos as mesmas chances, mas de fazê-lo de acordo com a realidade de cada um. Nessa perspectiva, observa-se que tal questão aponta para um panorama desafiador, relacionado à falta de equidade e à banalização das desigualdades sociais por parte do Estado.
A princípio, verifica-se que as oportunidades, principalmente, no âmbito educacional, não são dadas a todos de forma justa, ou seja, há a ausência de equidade na sociedade. A respeito disso, sabe-se que existe um grande abismo entre o ensino público e privado no Brasil – o que gera desigualdade, mas, ainda assim, a forma de ingresso às universidades é a mesma e o mercado de trabalho também, enaltecendo, dessa forma, apenas aqueles que se “esforçam”. Desse modo, infere-se que a falta de equidade colabora com o mito da meritocracia, ignorando a trajetória e as dificuldades de cada um, evidenciando as desigualdades sociais.
Ademais, deve-se verificar que a banalização das desigualdades da sociedade é um dos problemas da meritocracia. Quanto a isso, considera-se que Foucault, na sua obra “Vigiar e punir”, traz um conceito de normalização como uma forma de exercer o controle social máximo com o gasto mínimo de poder disciplinar, uma vez que o próprio Estado normaliza as desigualdades existentes ao invés de corrigi-las, pois exige menos esforços. Nesse sentido, observa-se que a atitude do poder governamental contribui com essa comunidade desigual baseada apenas no “mérito próprio”.
Assim, medidas são necessárias para solucionar tal problemática. Por isso, é preciso que o Ministério da Educação (órgão responsável pela administração do ensino no país) invista no ensino público, por meio de políticas públicas de melhoria estrutural e qualitativa nas escolas, a fim de amenizar as desigualdades existentes e aplicar a equidade. Por meio dessas ações, será possível uma comunidade mais consciente e menos meritocrática.