Em seu ilustre livro, intitulado como “Utopia”, Thomas More retrata uma sociedade ideal, na qual as relações sociais são padronizadas pela ausência de conflitos e de problemas. O que se observa na realidade brasileira, no entanto, destoa da narrativa do autor, uma vez que o combate ao tráfico de drogas apresenta barreiras, as quais dificultam a concretização dos planos de More. Nesse sentido, a análise das raízes e dos frutos desse entrave é uma medida inadiável, de modo a promover uma coletividade mais segura.
Em princípio, é fundamental pontuar que a ineficácia do projeto em vigência deriva da lamentável ausência de ações governamentais, no que concerne à criação de mecanismos capazes de coibir o crescimento desse tipo de comércio. Consoante à assertiva teoria hobbesiana, o Estado é responsável por garantir o bem-estar e os direitos da população. Entretanto, o deficiente sistema de ensino, atrelado à baixa infraestrutura das escolas públicas, fazem com que esse ideal, infelizmente, permaneça na teoria, pois o pouco incentivo educacional e a falta de perspectiva de futuro inserem muitos jovens no mundo do crime, em busca de um retorno financeiro mais rápido.
Ademais, é imperativo ressaltar que o racismo institucional atua como um agente promotor dos desafios postos em questão. De acordo com o Infopen, mais da metade da população carcerária é composta por homens negros ou pardos, com baixa ou nenhuma escolaridade. À vista disso, é notório que as políticas públicas adotadas criam uma relação entre encarceramento em massa e o racismo, com medidas proibicionistas, que reforçam um instrumento de perpetuação da violência. Esses aspectos retardam a resolução do empecilho, uma vez o aumento estatístico de cidadãos presos injustamente contribui para a perpetuação de adeptos ao tráfico, como forma de sustento.
Infere-se, portanto, a necessidade de se combater esses obstáculos. Para isso, é preciso que o Ministério da Educação, como órgão responsável pelo setor educacional, invista na formação básica de crianças e adolescentes, através de metodologias e infraestruturas qualificadas, com o objetivo de incentivar a carreira profissional das futuras gerações, pois só é possível solucionar as mazelas sociais com o combate aos motivos que as fazem insistir no meio cívico. Além disso, urge que o Estado reformule as atuais leis de prevenção ao abuso de drogas, com a adoção de estratégias realmente eficientes, baseada em pesquisas e exemplos de outros países, com a finalidade de acabar com a violência apresentada durante as operações militares em favelas e periferias. Dessa maneira, o tráfico de drogas será combatido aos poucos, e não de forma abrupta, para evitar o seu efeito reverso, já que o instinto do ser humano é reagir contra a opressão.