No preâmbulo da Carta Magna brasileira, definiu-se o Estado Democrático como imprescindível ao exercício da cidadania. Hodiernamente, contudo, a prevalência de acidentes entre automóveis, por exemplo, configura uma realidade à margem da democracia. Nesse viés, as medidas contra a violência no trânsito brasileiro, representam ainda enormes desafios. Pode-se dizer, então, que a tênue ação estatal e o individualismo do empresariado são os principais responsáveis pelo quadro.
Primeiramente, ressalta-se a inoperância governamental para combater a deficitária infraestrutura rodoviária. Segundo o pensamento hobbesiano, o Estado é encarregado de garantir o bem-estar da população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à negligência das autoridades, de acordo com o jornal "O Globo", a carente pavimentação das ruas, em 2016, motivou 30% dos choques entre veículos. Dessa forma, geram-se condições favoráveis à perpetuação da insegurança, e os direitos mais básicos normatizados em lei, como o direito à proteção, são ameaçados.
Outrossim, a exclusiva ambição por lucro é parte elementar do problema. Acerca disso, destaca-se um princípio ético fundamental da filosofia de Eric Voegelin, da qual se deduz que o egocentrismo prejudica a preservação da prosperidade coletiva. Em análise realizada pela revista "Exame", verificou-se que, nos últimos anos, empresas de auto-escola, visando somente o enriquecimento, vendiam carteiras de motorista sem oferecer o treinamento adequado. Logo, desrespeita-se, em nome de interesses individuais, uma importante noção da metafísica voegeliana, amplamente aceita, que harmoniza os vínculos humanos. Dessarte, o bem grupal padece sob o jugo do egoísmo.
Portanto, são necessárias medidas capazes de restabelecer a ordem democrática. Cabe ao Governo Federal atuar em favor da população, mediante a gênese de leis que garantam infraestrutura razoável às rodovias brasileiras, a fim de prover segurança a todos e o direito à proteção. Ademais, o corpo social deve pressionar os empresários a descontinuarem o comércio irregular de carteiras de motorista, por meio de atos educativos e campanhas de mobilização em praças e locais públicos, com a distribuição de cartilhas informativas e material complementar, no intuito de viabilizar um ambiente justo e equilibrado. Assim, obter-se-ão os requisitos indispensáveis para a restauração da soberania popular.