No Estado de Natureza lockeano, por falta de um governo que assegure a manutenção das posses de cada sujeito, cada indivíduo legisla em sua própria causa. Nesse sentido, o aumento vertiginoso do número de golpes financeiros na internet, acoplado à impunidade dos farsantes, evidencia que o mundo digital encontra-se análogo à condição de natureza idealizada por Locke. Assim, é evidente a necessidade de analisar os fatores que levam à manutenção desse fenômeno.
Primeiramente, é evidente que o Estado não consegue proteger completamente os bens privados que circulam pelas redes. Afinal, é nesse sentido que o sociólogo Noberto Bobbio aponta a incapacidade de os Estados contemporâneos em lidarem com as novas demandas sociais. Dessa forma, o fato de que, em 2021, o Brasil registrou a média de dez tentativas de golpe financeiro por minuto, segundo o jornal Gazeta do Povo, evidencia a fragilidade do governo em lidar com a situação.
Ademais, a ausência de leis que desestimulem a prática golpista desfavorece a sua abolição. Isso porque, como exposto no documentário "O dilema das redes", a falta de regulações virtuais leva as empresas a não adotarem sistemas rígidos para defender os dados de seus usuários. Esse cenário, por sua vez, favorece a ação dos golpistas que, de posse das informações pessoais, potencializam a sua prática. Nesse contexto, embora o governo seja incapaz de suprimir a prática golpista, por meio da criação de legislações específicas ele pode dificultá-la.
Urge, portanto, a necessidade de inibir a ocorrência de golpes financeiros na internet. Para isso, o Poder Legislativo, por meio da elaboração de leis que levem ao recrudescimento das políticas de privacidade e defesa dos dados civis em plataformas virtuais, poderia dificultar a apropriação dessas informações pelos golpistas. Logo, com a finalidade de minimizar a ocorrência de transações ilícitas, tal ação possibilitaria o afastamento da dinâmica social virtual da que define o Estado de Natureza de John Locke.