Milton Santos, em seu texto “Cidadanias Mutiladas”, defendeu a tese de que uma sociedade só seria democrática quando atendesse todo corpo social. Nesse sentido, quando se analisa o cenário brasileiro, percebe-se quão distante está com a ideia do geógrafo, haja vista que o excesso de trabalho dos cidadãos interfere em suas vidas saudáveis. Tal cenário é decorrido pelo medo frente ao crescente desemprego, o que resulta na realidade das doenças psicopatológicas.
Em uma primeira análise, destaca-se que o extremo trabalho realizado pelos indivíduos é decorrente ao contexto de desempregados no Brasil. A esse respeito, o sociólogo Karl Marx desenvolveu o conceito do “Exército Industrial de Reserva”, em que diz sobre a crescente busca por trabalho que tornou os empregados suscetíveis aos subempregos. Nesse viés, percebe-se a razão de parcela populacional aumentar suas horas trabalhadas: o receio do não emprego é maior. Ocorre que, em virtude das pressões capitalistas, as horas para os lazeres, famílias, amigos se tornaram quase impossíveis de vivenciar. Assim, é inegável que a democracia se torna mais frágil, visto que interfere no bem-estar defendido pela Constituição Federal.
Já em uma segunda análise, ressalta-se que doenças psicológicas são proporcionadas, como a intensa depressão, ansiedade e o “Burnout”. Por essa ótica, o poeta Fernando Pessoa dissertou sobre a “Heteronímia”, a qual diz sobre incapacidade da nação pós-moderna em alcançar a plenitude mental. Nessa perspectiva, percebe-se a semelhança e veridicidade, em virtude de que o avanço do capitalismo, e os seus modelos de produções exploratórios, dificultam as pessoas chegarem a um suposto ideal de estabilidade mental, tendo em vista que poucas empresas investem nas contratações de psicólogos, a fim de amparar as adversidades contemporâneas dos trabalhadores.
Dessa forma, de modo a diminuir o impasse da excessiva jornada de trabalho diárias e suas consequências, urge que a Ação Civil Pública – com sua função de defesa dos interesses populacionais -, em conjunto ao Ministério do Trabalho, por meio dos auditores fiscais da Federação, promova a fiscalização das impressas e trabalhadores, em que verifiquem se os horários trabalhistas e suas condições estão vigentes com as leis, como também, indiquem aos empreendimentos que contratem psicólogos, com a finalidade de que as garantias da Constituição, como o bem-estar, sejam mais presentes, o que diminuirão as problemáticas de saúde psicológica, e tamanhas ações acarretarão um Brasil rumo as ideias de Milton Santos concretizadas.