A obra “Utopia”, do escritor inglês Thomas More, demonstra uma realidade em que o corpo social é caracterizado pela ausência de problemas. Fora da ficção, o atual cenário brasileiro rompe com a perspectiva do autor, uma vez que, a problemática em torno da garantia de acesso à cidadania no Brasil cresce de modo exponencial. Dessa maneira, é válido analisar os aspectos governamentais e sociais a fim de mitigar o percalço.
É indubitável que a questão governamental está diretamente ligada ao problema. Sob esse aspecto, o filósofo Aristóteles, no livro “Ética a Nicômaco”, afirma que a ação do Estado deve manejar o equilíbrio social. Contudo, é observada uma insuficiência da ação estatal brasileira no que se refere à garantia integral do registro civil pelos indivíduos, fato que é exemplificado com a ausência de políticas públicas que visem a inclusão das pessoas marginalizadas em tal âmbito, assim agravando o cenário problemático.
Outrossim, o aspecto social também está relacionado ao percalço. Nesse sentido, consoante a escritora Simone Beauvoir, “mais escandalosa que a existência de um imbróglio, é a sociedade se acostumar a conviver com ele”. De maneira análoga, a percepção da autora é válida no atual viés social, visto que, no Brasil, ora pela desinformação, ora pelas dificuldades estruturais, foi consolidada uma cultura de ignorância popular no que diz respeito ao pleno acesso aos documentos pessoais, e, consequentemente, à cidadania, fato esse que corrobora para a consolidação da “invisibilidade” social.
Infere-se, portanto, que medidas amenizadoras sejam tomadas. Sendo assim, cabe ao Governo Federal, por meio do Ministério da Cidadania, promover políticas públicas que tenham o fito de garantir o acesso à documentação pessoal para os indivíduos que carecem de tal recurso, com o intuito de suprimir a inércia governamental no contexto da problemática. Por conseguinte, cabe também, ao mesmo agente, através das redes sociais, visando seu alto poder de alcance e influência, propagar informações adequadas acerca dos modos de garantia dos documentos pessoais, bem como enfatizar a sua importância, com a finalidade de anular a ignorância social no que se refere ao problema. Feito isso, a “Utopia” de More se realizará para os “invisíveis”.