O álbum “Sobrevivendo no Inferno” do grupo de rap nacional Racionais MC’s, marcou os anos 90 e início dos anos 2000 descrevendo a vida e os problemas vividos por presidiários no sistema carcerário brasileiro e fora dele também. Analogicamente, quase trinta anos após o lançamento dos rappers, o sistema prisional brasileiro ainda enfrenta muitas complicações, sendo uma delas a reinserção de ex-presos ao corpo social. Dessa forma, é necessário observar a falta de programas de reintegração desses indivíduos e a saturação do sistema prisional como motivadores para esse impasse.
Em primeiro lugar, é importante destacar a dificuldade na existência de ações empresariais e estatais efetivas no contexto de reintrodução da população carcerária. Segundo o médico Dráuzio Varela, o qual trabalhou anos em presídios brasileiros, há uma enorme dificuldade em atrair empresas para realizarem oficinas que empreguem presidiários e também programas fora das prisões que garantam vagas a essa população. Dessa forma, para assegurar a vida de seus familiares ao final do cumprimento de sua pena, muitos ex-presidiários vivenciando uma realidade de poucos recursos são incentivados a retornar ao crime, visto que a passagem criminal dificulta a conquista do trabalho formal.
Similarmente, a situação de superlotação do sistema prisional leva cidadãos novamente aos atos criminosos. De acordo com o Ministério de Justiça, existem hoje mais de 800 mil presos no Brasil, concomitantemente, nos últimos anos a violência tem aumentado cada vez nos municípios. Isso ocorre pois, com mais pessoas por cela os agentes carcerários perdem o controle do ambiente, o que abre espaço para o “recrutamento” de presos ao crime organizado, fazendo com que indivíduos os quais entraram na penitenciária por crimes leves, possam sair aptos a realizar graves crimes ao invés de se reinserirem na sociedade de forma digna e formal.
Portanto, o déficit de projetos dentro e fora das prisões e a superpopulação carcerária brasileira são empecilhos na recolocação social de ex-reclusos. Logo, é necessário que os Ministérios de Justiça, Educação e Economia se unam para gerar programas que habilitem presidiários para o mercado de trabalho dentro das próprias penitenciárias, por meio aulas do ensino básico com o Ensino para Jovens e Adultos (EJA) e também com oficinas que os ensinem a montar currículos e a como se apresentar em uma entrevista de emprego, bem como as empresas que admitirem pessoas com passagem criminal sejam dispensadas do pagamento de certos tributos, para que o “inferno” cantado pelo Racionais MC’s fique no passado.