Redação sobre A importância da consciência de privilégios - 20171013939823
É necessário considerar, em primeira instância, a formação valorativa que dá suporte às ideias de superioridade do discurso. Os sofistas, grupo de filósofos gregos, acreditavam na supremacia da retórica frente aos demais âmbitos da formação humana, cobrando aos cidadãos para ensinar-lhes a dominar o jogo das palavras. De maneira análoga, tal crença de que o controle da norma culta é requisito básico para o sucesso é fruto de uma formação cultural que supervaloriza os "doutores" e exerce contínua subversão para com o distinto desse padrão. Assim, desconsiderando a grande diversidade peculiar à construção de cada região brasileira, bem como as desigualdades socioeconômicas, definem-se os limiares do "português bem falado".
Além disso, é importante salientar a participação escolar na estruturação de noções dessa natureza. "Se aprende com as diferenças, não com as igualdades", ensinava Paulo Freire. No entanto, a realidade atual das instituições de ensino brasileiras mostram certa distância do pretendido pelo pedagogo. Usualmente, apegadas às visões tradicionais de ensino, as grades curriculares de língua portuguesa costumam dar ênfase no estudo da gramática de modo universalista, sem muito destaque para estudos sobre o falar regional, de maneira a engessar o ensino e não se reconhecer a expressão do dialeto como uma entidade viva, que passa por contínuos processos de transformação. Desse modo, corrobora-se a aparente superioridade de um discurso sobre o outro, sem que seja avaliada com clareza a importância das variações para a fluidez de um idioma.
Diante do exposto, torna-se evidente a necessidade de direcionar atenção para o ensino linguístico e o modo como observamos a língua. Faz-se necessário que as instituições educacionais aprofundem o estudo histórico das variantes linguísticas, e, por meio de atividades de pesquisa e amostras culturais, incentivem a participação de seus discentes nesse processo de descoberta identitária. Para mais, é importante que se possa incluir em tais atividades a preparação do aluno para distinguir a importância de cada falar popular, mas também as ocasiões diversas em que cada discurso é propício. Ademais, ONGs podem oportunizar nas comunidades, de maneira extensiva, o acesso à leitura e alfabetização para indivíduos, que por plurais motivos, tiveram de abandonar o ensino regular tradicional. Assim, torna-se possível conferir discernimento e legar repertório, de modo que seja, agora, opção consciente do falante a dinâmica linguística que precisará ou desejará utilizar.