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Gêneros textuais: Carta

Você pode até achar estranho que o tipo de texto abordado hoje seja a carta, afinal, essa forma de comunicação não é mais tão usual quanto em séculos e décadas passadas, mas saiba que a carta ainda é uma ferramenta utilizada em diversos propósitos (já recebeu uma intimação ou fez um pedido de demissão sem ser no formato de uma carta?) e, por isso mesmo, alguns vestibulares e concursos acabam selecionando-a.

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Existem diversos tipos de cartas, entretanto, independentemente do tipo, qualquer carta conta com elementos básicos que marcam essa estrutura textual e a fazem ser diferente de outros modos de construção. São eles:

Destinatário (ou interlocutor): A carta é escrita para que seja lida por alguém e esse destinatário é absolutamente definido, ou seja, você sabe para quem está escrevendo.

As características do destinatário definem também o tipo de linguagem a ser empregado e o pronome de tratamento que abrirá o texto.

Remetente (ou locutor): Da mesma forma que o destinatário é definido, a pessoa que escreve a carta, também conhecida como remetente, também é definida. Ainda que a carta seja anônima (o que não acontece na redação de provas de vestibulares e concursos), é sabido que alguém a redigiu.

Local e data: Toda carta precisa conter as informações do local em que foi escrita e da data da redação. O posicionamento desses dados varia conforme o tipo de carta a ser escrito.

Vocativo: O vocativo nada mais é do que o pronome de tratamento (no caso de autoridades) empregado no início do texto. Os pronomes de tratamento são selecionados de acordo com a posição e importância do destinatário, quando redigimos cartas formais. O vocativo, no caso das cartas, também é conhecido como saudação.

Em cartas pessoais e informais, o vocativo pode conter simplesmente o nome do destinatário ou algum apelido/termo carinhoso.

Corpo do texto: O corpo do texto contém a mensagem que o remetente deseja dividir com o destinatário. Obedece à clássica divisão de introdução, desenvolvimento e conclusão, mas as regras não são tão inflexíveis quanto num texto dissertativo-argumentativo, por exemplo.

Despedida: Mais um elemento que está fortemente ligado ao tipo e nível de formalidade da carta e à importância/posição do destinatário. A despedida contém sempre uma saudação, que pode ser desde um simples e comum “atenciosamente” até “beijos”, sempre observando a adequação necessária, é claro.

Assinatura: A carta é finalizada com a assinatura do autor, a menos que se trate de uma carta anônima.

As possibilidades dentro do gênero carta são várias, mas destacaremos a seguir os três tipos básicos em que se dividem todas as cartas: correspondência oficial, correspondência comercial e correspondência pessoal.

– Correspondência oficial: A correspondência oficial engloba variados formatos de texto que servem como ferramenta de comunicação entre órgãos públicos ou entre órgãos públicos e cidadãos, a fim de que compartilhem informações relevantes para as pessoas envolvidas. São exemplos de correspondência oficial a ata, a convocação, o decreto, o edital, o memorando, entre outras possibilidades.

Independentemente do tipo de correspondência oficial, nota-se que a impessoalidade, a formalidade, a clareza e a concisão (afinal, cartas oficiais precisam ser pensadas para que sejam compreendidas com facilidade e certa agilidade) são características essenciais nesse tipo de correspondência. Erros de ortografia, pontuação e gramaticais são extremamente malvistos.

Importante também que haja padronização no formato das cartas oficiais, uma vez que elas serão redigidas por diferentes remetentes (mas sem interferência pessoal) e têm valor documental.

Note no exemplo abaixo de memorando como o padrão, a formalidade, a concisão e a impessoalidade são elementos marcantes do texto:

Campinas, SP.

27 de agosto de 2018

De: Departamento de Recursos Humanos

Para: Pedro Carvalho – Gerente Comercial

Assunto: contratação de vendedores

Informamos que, em resposta à solicitação quanto à contratação de 3 vendedores, enviada no memorando encaminhado em 20/08/2018, neste mês, o departamento de recursos humanos não pôde aprovar novos custos na folha de pagamento.

Dessa forma, é necessário aguardarmos um período de 15 dias para iniciarmos o processo seletivo e contratações para suprir as necessidades do departamento comercial.

Atenciosamente,

Marcos Lima

Gerente de recursos humanos

Fonte do memorando: www.negociodozero.com.br/ Acesso em 29/12/2019.

Concursos que têm por objetivo classificar candidatos para cargos públicos que envolvam comunicação e registro oficiais não raramente selecionam um dos tipos de correspondência oficial como gênero textual da redação, por isso, se esse for o seu caso, é importante saber quais são as produções textuais mais comuns no dia a dia da função pretendida e estudar suas estruturas e características particulares.

– Correspondência comercial: A correspondência comercial é um meio de comunicação entre empresas ou entre as empresas e seus clientes, a fim de informar algo ou promover transações. Podemos citar como exemplos mais conhecidos de correspondência comercial a ordem de serviço, o orçamento e a circular. Da mesma forma dos exemplos acima, a impessoalidade, concisão e formalidade são mantidas.

Por se tratar de uma produção textual muitíssimo específica, raramente vemos a presença da correspondência comercial em testes de vestibulares e concursos.

Correspondência pessoal: Não há um padrão para a correspondência pessoal, já que ela pode se apresentar de diversas formas, não obedecendo necessariamente a nenhuma regra. O que determinará o formato da carta e o nível de linguagem será a relação (mais ou menos íntima) entre o destinatário e o remetente e o objetivo da mensagem, portanto, no caso de a carta pessoal ser o tipo de texto selecionado para a redação da sua prova, pense nas respostas às seguintes questões: Para quem estou escrevendo? Qual é meu nível de intimidade com essa pessoa? Qual é minha mensagem/informação principal?

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Leia o exemplo de carta pessoal de Sara, que escreve para sua avó a fim de contar sobre as férias.

Salvador, 30 de abril de 2009

Querida avó,

Então tudo bem? As férias estão correndo bem e nós estamos encantadas com este lugar: a praia é ótima, o tempo está muito bom, por isso passamos o tempo todo na água.
Eu e Cristina estamos esperando a senhora, lembre-se que prometeu vir aqui no próximo fim de semana. Já estou vendo os dias maravilhosos que vamos passar todos juntos. Tenho saudades das histórias do vovô!
Com a senhora, a praia ainda vai ficar mais bonita, vai ser bom estar em sua companhia. Ah, vovó, mal posso esperar para comer a tua comidinha boa.
Esperamos ansiosamente a sua chegada. Temos muitas saudades!

Um grande beijo,

Sara

Fonte da carta: www.letrasmundosaber.blogspot.com/ Acesso em 29/12/2019.

Você percebeu como desde o vocativo (“Querida avó”) a carta tem um tom íntimo e pessoal? A intimidade entre os interlocutores faz com que o texto admita expressões informais, gírias e marcas orais (“Ah, vovó…”), mesmo assim, o texto ainda mantém todos os elementos básicos de uma carta, pois isso é fundamental para sua construção.

Cartas pessoais também admitem a inclusão do P.S. (post scriptum– pós- escrito em latim), que, hoje, é usado como forma de acrescentar uma informação ao final da carta, normalmente algo engraçado, inusitado. É um recurso para agradar ao leitor.

– Um tipo especial de carta: a carta argumentativa

Vestibulares de peso, como o da Unicamp, têm cobrado em sua redação a carta argumentativa, um tipo de texto que pode parecer estranho, mas que é uma forma de dissertação também e segue à estrutura básica que já conhecemos há tempos: introdução, desenvolvimento e conclusão, além, claro, dos elementos básicos de uma carta.

A carta argumentativa tem como objetivo primordial demonstrar a importância de um assunto por meio de argumentos. É o argumento que se constitui na principal estratégia para que o destinatário compreenda a necessidade de se fazer aquilo que o remetente pede na carta. Certos órgãos aceitam a comunicação apenas via carta argumentativa.

Sua estrutura contém as seguintes partes:

– Local e data;

– Nome/cargo do destinatário: Numa carta argumentativa, nem sempre sabemos o nome da pessoa que a lerá, mas ao menos o cargo precisa ser especificado;

– Vocativo: Considerando novamente os pronomes de tratamento e o nível de formalidade;

– Introdução: Que deve conter o assunto central da carta;

– Desenvolvimento: Explicação pormenorizada do assunto e argumentação a fim de demonstrar a importância do problema/situação. Nas cartas argumentativas, frequentemente utilizam-se fatos como argumentos de comprovação;

– Conclusão: Fechamento das ideias, solicitações e apresentação de possíveis soluções aos problemas contidos na carta;

– Despedida;

– Assinatura do remetente.

Ao contrário de uma dissertação argumentativa, a carta argumentativa, a depender da situação, pode ser escrita em primeira pessoa do singular sem qualquer tipo de prejuízo.

Cartas abertas, cartas do leitor, cartas de requisição e de reclamação são alguns exemplos de cartas argumentativas.

Vamos ver agora na prática um exemplo de carta argumentativa?

São Cristóvão, 12 de fevereiro de 2010

Prezado Diretor da Empresa Chocolate Amadeu,

Gostaria de informar que comprei uma caixa de chocolates no ano passado para dar de presente aos meus familiares no ano novo e tive uma grande desilusão, fora a vergonha que tive de passar.

As cinco caixas, compradas no estabelecimento Flora Brasil em dezembro de 2009, estavam fora do prazo de validade e, além disso, os chocolates estavam esbranquiçados e sem o sabor que costumam ter.

Visto esse incidente, voltei à loja e eles me impediram de trocar os produtos, uma vez que não estava com o recibo da compra. Para tanto, recorri ao Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e aguardo resposta da entidade sobre a reclamação que fiz.

Nesse caso, resolvi escrever diretamente para a empresa ver se consigo resolver meu problema (ainda que ele não possa ser resolvido totalmente, pois já tive que passar a vergonha pela situação dos chocolates quando os ofereci).

Atenciosamente,

Ana Braga de Oliveira

Fonte da carta: www.educamaisbrasil.com.br/ Acesso em 29/12/2019.

Na carta do exemplo acima, a remetente, Ana, não sabe qual é o nome do diretor da empresa de chocolates, porém ela tem total noção de que deseja que a carta seja lida por ele, por isso, seu vocativo não traz o nome do destinatário, mas sim seu cargo. Perceba também que ela usa o termo “prezado”, conferindo assim respeito e formalidade ao texto.

Para sustentar seus argumentos, Ana cita fatos relativos à cor e ao sabor dos chocolates a fim de demonstrar ao leitor que eles realmente estavam fora do prazo de validade.

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Por fim, após fornecer vários detalhes ao destinatário, a remetente cobra uma solução a seu problema por parte da diretoria da empresa, o que se constitui na conclusão da carta.

Mesmo escrita em primeira pessoa do singular, a carta de Ana mantém o nível de formalidade do começo ao fim (algo essencial para a qualidade desse tipo de texto) e apresenta uma argumentação coerente, fator que não pode faltar no desenvolvimento da carta argumentativa.

TABELA – Principais diferenças entre o texto dissertativo-argumentativo e a carta argumentativa

O que você acha de começar a treinar a escritura das cartas? Temos certeza de que não faltarão temas, sejam eles mensagens apaixonadas (ou não tão apaixonadas assim), saudosas, reclamações etc.

Veja também:

Diferenças entre a dissertação e o artigo de opinião

Dicas para redação: Recursos argumentativos

Conclusão de Redação para Vestibulares e Concursos

Como funciona a redação da FUVEST?

Redação ENEM: Análise dos 11 últimos temas cobrados na prova

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