Como usar o Meu pé de Laranja Lima nas redações?
Escrito por José Mauro de Vasconcelos e lançado em 1968, O Meu Pé de Laranja Lima não é qualquer livro, já que ele é uma das obras brasileiras mais vendidas, editadas e traduzidas de nossa literatura.
São mais de dois milhões de exemplares vendidos desde seu ano de lançamento, mais de 150 edições somente no Brasil. Só isso já seria suficiente para você perceber o quanto o livro é importante, mas temos outros números para te contar.
Não bastasse o sucesso de vendas e edições no Brasil, a obra foi traduzida em 15 idiomas e publicado em 23 países, dentre eles Alemanha, Argentina, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Itália e muitos outros.
E a gente já sabe que livro que vende bem vira o quê? Filme, né, minha gente. Não é à toa que O Meu Pé de Laranja Lima foi adaptado para o cinema não uma, mas duas vezes: a primeira em 1970 e a segunda em 2012.
Além disso, o enredo também foi adaptado para telenovelas três vezes, em 1970 (pela extinta Rede Tupi), 1980 e 1988 (pela Rede Bandeirantes). Já no teatro, o tão famoso Laranja Lima apareceu em 1986.
E para fechar esse sucesso estrondoso, o enredo criado por José Mauro de Vasconcelos virou história em quadrinhos na Coreia do Sul, em 2003.
Falando em enredo, vem com a gente conhecer um pouco mais sobre a história deste sucesso nacional.
O enredo
O protagonista da história é Zezé, um garotinho de seis anos que vive com sua família (pai, mãe e cinco irmãos) em um bairro extremamente modesto na zona norte do Rio de Janeiro.
Você já deve ter notado que o nome do autor é José e o do protagonista é Zezé. Sim, estamos falando de uma autobiografia de José Mauro Vasconcelos, que resolveu registrar as memórias de sua infância em palavras.
Muito bem, mas o que pode haver de tão interessante na vida de um garotinho de seis anos que justifique tamanho sucesso da obra? Vamos te explicar.
Poucos autores foram tão fenomenais no equilíbrio entre a alegria e a tristeza, elementos que fazem parte da vida de todos nós, em maior ou menor proporção, do que José Mauro de Vasconcelos.
A história está ambientada entre os anos 1928 e 1929, tempo esse em que a noção de infância praticamente não existia no Brasil e a criança era vista apenas como um adulto em formação.
Para que esse adulto alcançasse a plenitude moral, todo tipo de correção era aceitável, inclusive surras violentas e são essas surras que marcam de forma intensa a vida de Zezé.
Não são poucas as passagens em que Zezé leva surras homéricas de seu pai e de sua irmã mais velha. O próprio protagonista diz que merece apanhar porque “tem o diabo no corpo”, já que ele é uma criança bastante travessa e vive se metendo em confusões.
Mas nem só de tristeza é feita a vida de Zezé. Em meio às grandes dificuldades que a família vive por conta do desemprego do pai e da ausência da mãe durante a maior parte do dia devido a seu emprego, o menino encontra num pé de laranja lima um amigo.
O pé de laranja lima, batizado por Zezé de Xururuca e Minguinho, torna-se o grande amigo de Zezé durante boa parte da obra. É para ele que o menino conta sobre suas tristezas, sonhos e planos para o futuro. Também é com a árvore que Zezé se imagina vivendo as aventuras dos filmes de faroeste, tão comuns na época.
Entretanto, Zezé também poderá experimentar como é ter um amigo de verdade, de carne e osso, e é aí que o Portuga entra em cena. É com ele que Zezé aprenderá o valor da amizade, do carinho e do respeito.
Este não é um livro que fala de uma infância feliz, do tipo “comercial de margarina”. Muito pelo contrário, Zezé e sua família são sofredores, a violência contra a criança prepondera, mas o menino, mesmo diante do cenário mais adverso possível, continua sonhando e brincando, tal como qualquer menino de sua idade.
Um pouquinho de contexto histórico e literário
Entender o contexto histórico desta obra é essencial para entendê-la melhor. Muito do que o livro traz enquanto retrato social pode ilustrar sua redação.
O Brasil vivia ainda os reflexos do pós-guerra (Primeira Guerra Mundial- 1914 a 1918). O colapso econômico gerado não só pela guerra, mas também pela Crise de 29, em Nova York, provoca desemprego, fechamento de estabelecimentos e empobrecimento da população em geral.
É por conta dessa situação que o pai de Zezé está desempregado. O desemprego faz com que a família passe por privações e desestabiliza o pai mentalmente, que desconta em Zezé, o filho mais levado, todas as suas frustrações.
O retrato dos maus-tratos infantil é quase algo vivo ao longo do enredo. Zezé apanha e apanha muito, por qualquer motivo e em qualquer momento, sem nem ao menos entender por que está sendo agredido.
Essa transparência ao se tratar da violência de modo extremamente realista é um recurso que o próprio período literário vigente entre 1928 e 1929 – o Modernismo – permite.
Outro traço tipicamente modernista na obra é a brasilidade, já que o enredo é recheado de símbolos e práticas brasileiras.
Como usar o livro na redação?
Por ser uma obra de grande sucesso nacional, utilizar O Meu Pé de Laranja Lima como parte de sua redação é uma aposta certeira.
O livro se relaciona diretamente com assuntos como violência, trabalho infantil e concepção de infância, mas há muitas outras possibilidades.
A desordem mental do pai de Zezé é responsável por desencadear a série de surras que o menino leva, por isso, a obra pode ser usada para se discutir a respeito da importância da saúde mental, tema muito cotado para as redações de grande porte de 2020.
Conforme te contamos anteriormente, a mãe de Zezé deixa sua família grande parte do dia para trabalhar, porém, por ser mulher, seu emprego é marginalizado e aqui podemos tratar tanto do papel da mulher na sociedade quanto da desvalorização do trabalho feminino.
De modo especial, o livro é potente ao abordar a infância, nua e crua, naquele período histórico, porém, ainda hoje, muitas e muitas crianças sofrem violência física e verbal, além de assédio, e o principal local dessas ocorrências é o próprio lar.
Você sabe quais são as leis e demais medidas que têm por objetivo proteger a criança e a infância? Está por dentro de todos os direitos que as crianças têm assegurados legalmente? Tem plena certeza de qual é o dever da família perante uma criança? Todas essas informações podem enriquecer, e muito, seu repertório.
É possível ainda utilizar O Meu Pé de Laranja Lima em temas que estejam ligados à formação da família, à mudança de costumes (ao ler a obra, analise se o tipo de infância vivido por Zezé ainda é comum hoje), à criatividade, à proteção da infância, ao impacto social e pessoal do desemprego, à crise econômica, enfim, há um leque bastante extenso de opções, o que só comprova a riqueza dessa produção literária.
Outros materiais relacionados
Se você se interessou pelo assunto de relato de infância e de contextos sociais e históricos vistos sob a ótica de uma criança, é muito possível que você goste de:
–Infância, de Graciliano Ramos.
De 1945, o livro Infância também é autibiográfico, mas aqui o equilíbrio entre as memórias pessoais e a condição social é marcante na obra.
–Menino de Engenho, de José Lins do Rego.
Mais um romance recheado de lembranças dos tempos de criança e com um tom crítico a respeito da sociedade da época (o livro foi publicado em 1932 e é a obra de estreia do autor) que deixa o enredo ainda mais interessante.
–Filme Preciosa– Uma história de esperança.
De 2010, o drama social mexe profundamente conosco, pois revela o que acontece com uma pessoa exposta à violência sexual, física e psicológica.
-Filme Mãos Talentosas.
Produção cinematográfica de 2009, o filme Mãos Talentosas conta a história do neurocirurgião americano Ben Carson, que, por conta de sua infância repleta de percalços, tinha tudo para “dar errado” na vida, mas que, muito pelo contrário, não só dá certo como se torna referência mundial em sua área de atuação.
Conte pra gente: você já leu O Meu Pé de Laranja Lima? Não leu ainda? Então não perca mais tempo, a leitura vale cada minuto dedicado.
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