Bebês reborn: limites e possibilidades dos vínculos simbólicos na contemporaneidade | Tema de redação

Bebês reborn

Nas últimas semanas, uma nova febre viral tomou conta das redes sociais: vídeos de jovens com bonecas hiper-realistas, os chamados bebês reborn, simulando cuidados, rotinas maternas e até visitas a hospitais. Embora esse movimento desperte críticas e julgamentos, trata-se de uma prática antiga, ligada a uma forma de expressão artística e afetiva. A arte reborn existe há mais de duas décadas e, para muitos, vai além da estética, representa um vínculo simbólico e, por vezes, terapêutico.

Em um mundo marcado por carências emocionais, solidão e conexões frágeis, esses laços simbólicos, criados com representações não humanas, como bonecas, pets e até inteligências artificiais, vêm ganhando espaço como forma de conforto e identidade. No entanto, é preciso compreender os limites entre o lúdico e o real, os benefícios possíveis e os riscos de fuga emocional excessiva.

Proposta de Redação sobre bebês reborn

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Bebês reborn: limites e possibilidades dos vínculos simbólicos na contemporaneidade”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. 

Desse modo, selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.

Instruções para redação sobre bebês reborn

  1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
  2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta preta, na folha própria, em até 30 (trinta) linhas.
  3. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para a contagem de linhas. 
  4. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
  • 4.1 tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo consideradas “textos insuficiente”; 
  • 4.2 fugir do tema ou não atender ao tipo dissertativo-argumentativo; 
  • 4.3 apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto;
  •  4.4 apresentar nome, assinatura, rubrica, ou outras formas de identificação no espaço destinado ao texto.

Textos motivadores sobre bebês reborn

Texto I – Bebês reborn: entenda o que são e por que chamam atenção

Nas últimas semanas, mulheres que produzem conteúdos com bonecos hiper-realistas, os chamados bebês reborn, têm sido alvo de críticas e polêmicas nas redes sociais. A prática, no entanto, vai muito além da aparência realista e da atuação nas redes: trata-se de um trabalho artesanal minucioso, que mobiliza afetos, debates sociais e até ações de preconceito.

Y.B., uma adolescente do interior de Minas Gerais, viralizou ao publicar um vídeo em que leva seu bebê reborn, Bento, ao hospital. Apesar do tom fictício, o conteúdo causou reações extremas. Comentários como “isso é normal?”, “vai se tratar, louca” e “caso de psiquiatra” se multiplicaram, mostrando como parte do público ainda não compreende o universo dos vínculos simbólicos.

A arte reborn não se resume aos vídeos. É um processo artístico delicado, que envolve várias etapas: da escolha do material (vinil ou silicone) até o sombreamento da pele, inserção de fios de cabelo e simulação de detalhes realistas como veias, manchas e unhas.

Além da produção artesanal, algumas mulheres encontram nos reborns uma forma de hobby ou até de acolhimento emocional. Segundo a psicóloga Larissa Fonseca, atividades lúdicas como brincar com bonecas podem ativar áreas do cérebro ligadas à criatividade e ao relaxamento, desde que não se tornem um mecanismo de evasão da realidade.

O interesse pelo reborn não é recente. A influenciadora Nane Reborns coleciona bonecas há mais de 20 anos e, atualmente, soma mais de 240 mil seguidores. Famosos também aderiram ao fenômeno: o padre Fábio de Melo e a apresentadora Nicole Bahls possuem bebês reborn em casa. O tema chegou ao cinema com o filme Uma Família Feliz, estrelado por Grazi Massafera, que interpreta uma artesã de reborns.

Fonte adaptada: CNN Brasil

Texto 2Bebês reborn: entre o consolo emocional e os limites da realidade

Confeccionados artesanalmente com materiais como vinil e silicone, os bebês reborn chamam atenção por sua aparência hiper-realista. Além de cabelos implantados fio a fio e veias simuladas, alguns modelos apresentam até mecanismos de respiração e batimentos cardíacos. Embora tenham surgido como peças de coleção nos Estados Unidos na década de 1990, seu uso tem se expandido no Brasil, inclusive como forma de conforto emocional.

Para muitas pessoas, os bebês reborn funcionam como representações simbólicas de vínculos afetivos. Há quem os utilize para elaborar lutos, preencher vazios existenciais ou simplesmente exercitar a maternidade como papel social simbólico. Em alguns casos, o vínculo com essas bonecas pode auxiliar no tratamento de quadros depressivos ou transtornos de ansiedade, sendo usados inclusive em contextos terapêuticos, como a terapia ocupacional.

Entretanto, especialistas alertam para os limites dessa prática. A psiquiatra Carla Mendes destaca que o bebê reborn pode funcionar como um objeto de transição emocional saudável, desde que o uso não substitua a realidade. Quando a pessoa passa a simular integralmente a maternidade, levando o boneco ao hospital ou exigindo prioridade em filas públicas, por exemplo, o comportamento pode sinalizar uma ruptura entre fantasia e realidade que merece atenção clínica.

Em síntese, a arte reborn envolve tanto possibilidades de expressão afetiva e conforto psicológico quanto riscos de fuga da realidade e conflitos de convivência. O fenômeno traz à tona discussões relevantes sobre os limites da empatia, a função terapêutica dos objetos e os desafios da saúde mental em tempos de solidão e hipermídia.

Fonte adaptada: Hospital Santa Mônica

Texto 3 – Bebês reborn e o debate público: quando o vínculo simbólico exige limites legais

A recente onda de popularidade das bonecas hiper-realistas conhecidas como bebês reborn tem ultrapassado o universo das redes sociais e alcançado o Congresso Nacional. Somente em maio de 2025, três projetos de lei foram protocolados na Câmara dos Deputados com o objetivo de regular a relação entre colecionadores e esses objetos de representação humana. O crescimento do fenômeno e as polêmicas que o cercam provocaram discussões sobre saúde mental, uso indevido de serviços públicos e os limites entre o lúdico e o real.

O primeiro projeto, proposto pelo deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), proíbe a simulação de atendimentos médicos a bonecas reborn em hospitais públicos e privados, restringindo tais práticas a lojas especializadas no segmento. A proposta estabelece sanções administrativas para instituições que permitirem esse tipo de atendimento e multa de até R$ 50 mil para os casos de reincidência.

Outra iniciativa, de autoria da deputada Rosângela Moro (União-SP), propõe a criação de uma política de acolhimento psicológico no Sistema Único de Saúde (SUS) voltada a pessoas com vínculos afetivos intensos com bebês reborn ou outros objetos simbólicos. O projeto destaca que o objetivo não é criminalizar os vínculos, mas sim oferecer apoio adequado diante de manifestações emocionais atípicas.

Além disso, o deputado Zacharias Calil (União-GO) apresentou proposta que prevê multas entre 5 e 20 salários mínimos (podendo chegar a R$ 30 mil) para pessoas que tentarem utilizar bonecas reborn para obter privilégios sociais indevidos, como atendimento prioritário em filas, uso de assentos especiais ou descontos em serviços. A sanção será aplicada mesmo que a tentativa de benefício não se concretize.

Fonte adaptada: G1 – Política

Texto IVCharge: a ironia do afeto seletivo e a invisibilidade da infância pobre

A charge, publicada no perfil @seriilustrador, retrata dois meninos em situação de rua. Um deles, deitado no chão em posição fetal, diz: “Imitando bebê reborn pra ver se alguém me adota”. A cena é carregada de ironia crítica, ao confrontar o afeto exagerado que a sociedade dedica a bonecas hiper-realistas com o abandono de crianças reais em situação de vulnerabilidade.

A frase provoca um choque simbólico: enquanto a adoção de “bebês reborn” se torna tendência e até motivo de engajamento nas redes sociais, crianças reais seguem marginalizadas, sem políticas públicas efetivas ou amparo familiar. O contraste aponta para um tipo de afeto seletivo que romantiza o simbólico e ignora o concreto.

A imagem, portanto, atua como denúncia social, escancarando uma contradição entre o afeto encenado e o cuidado efetivo. É um convite urgente a refletir sobre os limites entre fantasia, consumo emocional e responsabilidade coletiva.

Fonte adaptada: @seriilustrador (Instagram)

Repertórios para usar na redação sobre vínculos simbólicos e bebês reborn

Entender os vínculos simbólicos a partir do fenômeno dos bebês reborn exige uma análise crítica sobre os limites entre afeto, representação e realidade. A seguir, selecionamos repertórios socioculturais sólidos que podem ser utilizados de forma estratégica em redações que abordem essa e outras temáticas relacionadas ao afeto simbólico, solidão, escapismo e identidade emocional.

Atualidade: Dia da Cegonha Reborn no calendário oficial do Rio

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou, em maio de 2025, o “Dia da Cegonha Reborn”. O projeto reconhece oficialmente as artesãs que produzem os bebês reborn como criadoras simbólicas de vida — as chamadas “cegonhas”. A proposta coloca o tema no centro do debate legislativo e revela o impacto cultural e afetivo dessas bonecas hiper-realistas na sociedade contemporânea.

Esse dado atual pode ser usado como ponto de partida para introduções ou propostas de intervenção que tratem da institucionalização de vínculos simbólicos e da necessidade de regulação ética sobre tais práticas.

Filmes e séries: representação de vínculos com o simbólico

1. Black Mirror – episódio “Be Right Back” (2013)
No episódio, uma mulher utiliza um robô com inteligência artificial para substituir seu namorado falecido. A produção traz reflexões sobre a substituição emocional e os perigos de projetar afetos em representações artificiais. Ideal para discutir os limites da fantasia e a busca de consolo por meio da tecnologia.

2. Her (2013)
Neste filme, o protagonista se apaixona por um sistema operacional inteligente. A trama oferece subsídios para refletir sobre a solidão e a construção de laços afetivos com entes simbólicos, especialmente em tempos de hiperconexão digital e isolamento emocional.

3. Lars and the Real Girl (2007)
Lars, um jovem socialmente isolado, desenvolve uma relação afetiva com uma boneca de aparência humana. O enredo é um exemplo claro de como o afeto simbólico pode ser, ao mesmo tempo, terapêutico e preocupante, dependendo do grau de envolvimento e da ruptura com a realidade.

Livros: representações afetivas e simbólicas

4. O Estranho Caso do Cachorro Morto – Mark Haddon
O livro acompanha um adolescente com espectro autista que desenvolve fortes laços com um animal de estimação. A obra serve para discutir a importância dos vínculos não convencionais como forma de construção emocional e social.

5. A Menina que Roubava Livros – Markus Zusak
Além da relação afetiva com os livros, a protagonista constrói uma identidade marcada por perdas e por objetos simbólicos que lhe oferecem suporte emocional em tempos de guerra. É útil para refletir sobre a função terapêutica dos vínculos não-humanos.

Fatos históricos e culturais

6. Bonecas de louça do século XIX e XX
Durante séculos, bonecas foram usadas por crianças e adultos como meio de educação, cuidado e consolo. O renascimento desse hábito com os bebês reborn revela uma permanência histórica de vínculos afetivos projetados em objetos.

7. O culto às relíquias em tradições religiosas
Em várias tradições, objetos com carga simbólica representando figuras sagradas são vistos como pontos de conexão espiritual e emocional. Isso ajuda a mostrar que o uso simbólico de representações não é um fenômeno novo — ele apenas muda de forma conforme a época.

Legislações e propostas de regulação

8. Projeto de Lei 2.320/2025
Propõe multa de até R$ 30 mil para quem tentar furar filas usando bebês reborn como se fossem crianças reais. O projeto evidencia a necessidade de definir os limites do simbólico dentro das normas sociais.

9. Projeto de Lei da deputada Rosângela Moro (2025)
Propõe acolhimento psicossocial a pessoas com vínculos simbólicos intensos com objetos humanizados. Pode ser citado em propostas de intervenção, mostrando que há ações concretas voltadas ao cuidado mental e emocional no Brasil.

🧠 Argumentos para utilizar na redação

Argumento 1 – A solidão afetiva impulsionada pelo individualismo estrutural

Causa:
Na contemporaneidade, vivemos uma cultura baseada na performance, na produtividade e no autocentramento. Essa lógica de vida, como analisa o sociólogo Zygmunt Bauman, privilegia vínculos frágeis, líquidos, facilmente descartáveis, o que acaba por intensificar o sentimento de solidão, mesmo em contextos hiperconectados.

Consequência:
Como resposta emocional a esse cenário, muitas pessoas acabam desenvolvendo vínculos substitutivos com objetos simbólicos, como os bebês reborn, que fornecem a sensação de cuidado, presença e afeto contínuo, sem os riscos das relações humanas reais. Quando não acompanhado de suporte, esse processo pode gerar dependência emocional e isolamento.

Pensador aplicado:
Segundo Bauman, em Amor Líquido, “o medo de ser abandonado transforma-se em medo de se envolver”. Isso ajuda a compreender por que vínculos simbólicos se tornam alternativas seguras para um afeto controlado.

Argumento 2 – Dores não elaboradas e a criação de substitutos emocionais

Causa:
Lutos não elaborados, perdas gestacionais e frustrações em torno da maternidade são algumas das dores que muitas pessoas carregam silenciosamente. A ausência de suporte emocional ou psicológico pode levar ao deslocamento afetivo para objetos, como os reborns, que passam a ocupar um espaço simbólico de compensação e elaboração da dor.

Consequência:
Esse tipo de vínculo pode ter efeitos terapêuticos importantes, como a redução de quadros de ansiedade e depressão leve, conforme apontam diversos estudos clínicos. No entanto, sem acompanhamento especializado, há o risco de uma fusão entre fantasia e realidade, o que pode comprometer a autonomia emocional do indivíduo e dificultar a socialização.

Pensadora aplicada:
A psiquiatra Carla Mendes afirma que “o bebê reborn pode funcionar como um objeto transicional para lidar com perdas ou ausências, mas quando a fantasia substitui a realidade, precisamos investigar o que está por trás desse comportamento”.

Conclusão

Os vínculos simbólicos com bebês reborn escancaram debates urgentes sobre afeto, dor psíquica e os limites entre ficção e realidade na sociedade contemporânea. Mais do que julgar, é preciso compreender o que motiva tantas pessoas a buscarem consolo em representações não humanas, sejam bonecas, pets ou perfis virtuais.

Na redação do ENEM, saber analisar esses fenômenos com empatia, repertório e senso crítico pode ser a chave para uma argumentação madura e bem pontuada.

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